Marcado no jeito, na roupa e na cabeça: o brega funk é um jovem recifense

Um movimento cultural que nasceu no Grande Recife vem redefinindo a forma como os jovens se veem e são vistos, a ponto de já ter garantido lugar na história oficial da cultura pernambucana. A última vez que Pernambuco viveu algo semelhante foi na década de 90 com o Mangue Beat e, mais uma vez, a novidade vem das periferias das cidades da região metropolitana só que, agora, diretamente das favelas. O Brega Funk surge de uma fusão vibrante de ritmos e estilos, vai muito além da música: é uma expressão de identidade que ecoa nos becos, nos bailes e nas mentes da juventude pernambucana.

Outra semelhança entre o Mangue e o Brega é que os dois movimentos extrapolaram a barreira da música e do entretenimento para marcar algo bem mais forte e duradouro na vida dos jovens: a identidade, presente na estética, na moda na linguagem, no comportamento e, principalmente, na valorização das origens e dos locais de nascença ou pertencimento. O movimento brega não pode apenas ser ouvido, mas também visto na cabeça, nas roupas e no jeito de uma geração de meninos e meninas que botaram suas comunidades no mapa da cultura local e lutam para chegar nos olhos do país. 

Entre eles, estão Ykaro MC e Brenu, que compartilham não apenas suas músicas contagiantes, mas também experiências de vida que ecoam nas letras e ritmos que produzem. Ykaro MC, que tem suas músicas tocadas nos bailes de comunidade, destaca o que o inspira ao escrever suas letras. 

“Minhas músicas são um reflexo do que eu vivo, do que eu vejo, e do que eu quero viver. Minhas letras falam de ostentação e festa, por que é isso que eu quero ver meus parceiros vivendo. Vivendo bem, trajados de Cyclone cara. O brega funk é para desopilar os problemas”, compartilha Ykaro MC. Ele afirma ainda que quando vê jovens escutando suas músicas e se inspirando na trajetória dele, sente que está cumprindo seu papel.

“Quem tá começando a trajar roupa de maloqueiro agora, tipo Cyclone e Seaway, fica com um pé atrás quando quem é de fora olha torto. Mas, quando começa a ouvir as músicas e vê a gente na beca nos clipes, entende que é pra se sentir bem com o que gosta de vestir. Muda a visão deles. O brega funk também é sobre se orgulhar das raízes”, explica o MC.

“Nossas músicas são tipo crônicas da nossa realidade. E eu gosto de escrever com características nossas, por que acho que é assim que eu posso destacar o lugar de onde eu venho. Eu aprendi lá atrás com MC Leozinho a me orgulhar do lugar de onde venho, e quero que as crianças se inspirem em mim agora, como me inspirei nele”, destaca Brenu, outro artista que vem crescendo na cena misturando o brega funk com o trap gringo.

“Eu escutava brega por que falava do que vivia. Hoje escrevo falando o que vivo e vejo no olhar da galera o que sentia no meu. O pessoal chega ‘que massa que tu falou do meu bairro no teu som’ ou colocando minhas letras nas legendas das postagens na rede por que se identifica e o brega funk é isso. O pessoal acha que é só a batida pra meter o passinho e pronto, mas não é. A questão é que é de dentro vai entender melhor”, conta Brenu.

“Vejo os clipes, escuto as músicas e parece que é uma ilustração das vivências daqui. Aì vejo um MC com um corte massa e quero também. Vejo uma beca nova deles e já vou atrás”, conta Rodrygo Costa, de 16 anos, jovem que encontra inspiração nas batidas do movimento. Estudante dedicado, Rodrygo compartilha como o Brega Funk não apenas influencia sua identidade, mas também serve como uma conexão com os amigos e com o V8, em Olinda, comunidade em que mora.

“Eu escuto se tô triste, se tô feliz, se tô com fome, se já comi. Faz parte de mim. Acho que se eu passar um dia sem escutar brega funk eu endoido”, brincou o jovem que já sonhou em ser MC, mas afirma que agora o foco é na conclusão do ensino médio. 

Rayane Silva, de 26 anos, personifica como o Brega Funk vai além da música para se tornar uma expressão de estilo. “Engravidei muito jovem, mas sempre tive em mente que já que ia ser mãe, queria dar o melhor pro meu filho, mesmo que eu suasse muito. Sempre achei bonito os meninos vestidos de Seaway e Cyclone, então queria vestir meu filho bem como eles. Então, desde pequeno ele é acostumado com o estilo, e gosta”, compartilha sobre Rhay Henrique, de apenas 13 anos. 

Rayane fala ainda do preconceito com estilo. “Eu ouvi várias vezes minha mãe reclamar, dizer que eu estava vestindo meu filho igual um ‘marginal’. Mas, quem eu acompanho no brega funk é gente direita, que batalha pra usar.” Para ela, essa escolha sobre como vai vestir o pequeno Rhay vai muito além da estética; é uma forma de transmitir orgulho e pertencimento. “A maldade está nos olhos dos outros. Não é por que meu filho tá de Seaway que vai ser ladrão. É até um jeito de mostrar ‘olha ele tá vestido igual um maloka, mas tem mais capacidade de crescer na vida que muito ‘boyzinho’ rico. É pra mostrar mesmo que veio da comunidade e pode ir onde ele quiser”, aposta. 

O antropólogo Victor Azevedo explora como a música transcende seu papel artístico, tornando-se um reflexo e uma influência na forma como os jovens se veem.

“O Brega Funk não é apenas um gênero musical; é uma expressão cultural que ecoa nos comportamentos, na moda, nas escolhas de vida. O impacto do movimento na autoestima é gigante porque os artistas vêm da periferia e, quando crescem no meio, a população percebe que eles têm representantes falando sobre a realidade deles. É quando eles percebem que são realmente importantes. Quando começa a ter uma notoriedade grande essas pessoas se sentem autorizadas, de certa forma, a se sentirem parte da cidade”, explica. 

Cada batida conta uma história; cada letra ressoa com experiências compartilhadas. O Brega Funk não é apenas uma trilha sonora; é um espelho que reflete a realidade, uma voz que ecoa na busca por pertencimento e uma expressão artística que transcende os limites do estigma social. Na periferia, o Brega Funk excede o ritmo e resulta em uma manifestação viva da cultura e da identidade do Grande Recife.

Notas

As Fadas desfizeram o laço e mostraram que ainda tem magia/que chama do fadismo ainda está acesa

Daninha, Dudão, Rahyra, Lanay, Mirela e Juju, surpreenderam seus seguidores com reunião da Cia As Fadas, dois anos após fim do grupo. Com a madrinha do grupo, Aloops, e o influenciador Hytalo Santos, elas reproduziram a icônica coreografia da música “Colocadinha”. Até a publicação desta nota, o vídeo já passa das 16 milhões de visualizações. 

Tocha celebra raízes e força da comunidade em gravação do novo DVD

Com a gravação do DVD “Tocha – O dono do lugar é Deus”, o cantor busca celebrar suas conquistas no lugar e com as pessoas que sempre acolheram sua arte, com um show gratuito na quadra Buraco da Gata, no Ibura, na Zona Sul do Recife.  

Peso! Caio, o Gênio, anuncia primeiro show da sua carreira solo

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Brabos! Com ‘ O Retorno’, Dadá Boladão e Tocha recheiam palco do Lounge Music sucessos que marcaram época

Pra curtir um baratino ou pra castelar, Dadá Boladão e Tocha trazem clássicos românticos e do brega funk em “O Retorno”. O show, que conta com a participação de Menor, Grazi Almeida, Nando Ramos e Banda Bregão do Play, promete agitar o Lounge Music, em Piedade, na noite do dia 14 de novembro, véspera de feriadão.