
Na Ilha do Maruim, em Olinda, o brega funk embala bailes, festas e sonhos É lá que Ykaro MC, 22 anos, faz ecoar sua voz, onde as batidas do brega funk são trilha sonora de vidas que misturam resistência e sonho. Ainda lutando por seu espaço no cenário da música, Ykaro teve um papo sincero com 081 na Beca, sobre os passos que vem dando para tornar em realidade o que sonha desde “pirraia”, e sobre carregar a beca que traz com ela olhares pouco confortáveis, ao transformar Cyclone e cordão de prata em um símbolo de pertencimento e dignidade.
“Na comunidade, quando você bota uma roupa dessas, é como se você fosse alguém. Parece besteira, mas é autoestima. É mostrar pra si mesmo que você vale algo”, explica Ykaro, com o sorriso tímido de quem sabe bem o peso das palavras que canta.

A Ilha do Maruim não aparece nos mapas turísticos de Olinda, mas é casa para milhares de famílias que enfrentam a dureza da pobreza, longe do glamour dos carnavais da cidade. Segundo os dados fazem parte da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua Trimestral, divulgada em maio deste ano pelo IBGE, a taxa de desemprego entre os jovens de 18 a 24 anos subiu de 15,3% no 4º trimestre de 2023 para 16,8% no 1º trimestre deste ano. Muitos recorrem a trabalhos informais para ajudar em casa, como Ykaro, que começou a trabalhar como MC para contribuir na renda de casa e continuar comprando suas roupas de luxo na mesma medida.
Essa realidade faz com que sonhos de consumo ganhem outro significado. Uma peça de roupa de marca não é apenas uma questão de estilo. “Quando eu era mais novo, via os caras mais velhos do bairro andando com aquelas camisetas da Cyclone, com marra, e sonhava ter uma. Pra mim, era coisa de quem já tinha chegado lá”, conta o MC.


De “Seta”: há pertencimento na beca
Se para o mercado global marcas como Cyclone são só produtos, nas periferias do Grande Recife elas carregam um valor que ultrapassa o material. A Cyclone, em particular, voltou a ganhar força na comunidade, com suas peças de veludo e a chamativa de seta. Para Ykaro, vestir essas peças é mais do que acompanhar uma tendência: é conquistar um espaço simbólico em um mundo que os ignora. “Até para gravar um clipe, fazer um show, chegar com essa beca te deixa com mais presença”, afimou o jovem.


Sonho grande, passos pequenos
Ykaro MC ainda busca seu espaço fora da Ilha do Maruim. O sucesso não é só sobre fama ou milhões de visualizações, mas também uma forma de transformar a realidade da sua família. “Eu tô começando agora, a música vai crescendo aos poucos. Mas é massa fazer um show aqui na ‘Ilha’ e ver a galera curtindo meu som, gente que me viu crescer, e até quem desacreditou. Quero que os ‘pirraias’ daqui um dia ouçam meu som e pensem ‘se ele conseguiu, eu também consigo’, já valeu a pena.”